domingo, 2 de dezembro de 2012
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
O Filósofo Friedrich Nietzsche dizia que uma espécie de oração de cada pessoa ao iniciar o dia deveria ser um pensamento do tipo"!Hoje vou dar alegria a Alguém".
Em sua opinião qual deve ser a oração de cada pessoa para começar o dia?
Todos os dias ao acordar pela manhã, procure ficar uns cinco minutos a mais na cama, simplesmente verificando que você não é o mesmo de ontem.
Dr. José Angelo Gaiarsa no livro Palavras de Poder de Lauro Henriques Jr.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Gostei muito do livro:Palavras de Poder de Lauro Henriques Jr.
imagem da internet
imagem da internet
"No livro Faces ocultas, o pintor Salvador Dalí cita a instrução que o soberano espanhol Filipe II costumava dar ao criado na véspera de eventos importantes:"Vista-me devagar, pois estou com muita pressa".
Estou precisando aprender a vestir-me mais devagar...
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante
Carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha
Ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última
obra
PAULO LEMINSKI
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Ontem à noite, enquanto eu dormia,
sonhei – maravilhosa ilusão! –
que uma corrente jorrava
em meu coração.
Eu disse: por qual canal secreto,
oh água, você vem a mim,
água de uma vida nova
que eu nunca bebera antes?
Ontem à noite, enquanto eu dormia,sonhei – maravilhosa ilusão! –
que havia uma colméia
bem dentro do meu coração.
E as abelhas douradas
faziam favos brancos
e mel doce
das minhas velhas imperfeições.
Ontem à noite, enquanto eu dormia,
sonhei – maravilhosa ilusão! –
que um sol ardente brilhava
dentro do meu coração.
Era ardente porque sentia calor
como em uma fornalha,
e sol porque brilhou
e trouxe lágrimas aos meus olhos.
Ontem à noite, enquanto eu dormia,sonhei – maravilhosa ilusão! –
que era Deus quem eu tinha
bem dentro do meu coração.
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
Solidão crônica
Drauzio Varella
O isolamento social aumenta o risco de morte tanto quanto o cigarro, e mais do que o sedentarismo ou a obesidade.
A relação entre vida solitária, doenças cardiovasculares, depressão e incidência de infecções foi demonstrada em mais de 100 estudos epidemiológicos publicados a partir dos anos 1980. Esses estudos, no entanto, não explicam os mecanismos através dos quais o isolamento aumenta a mortalidade.
Nos últimos 10 anos, os efeitos biológicos da solidão se tornaram mais conhecidos graças ao trabalho inovador de um grupo da Universidade de Chicago, dirigido por John Cacciopo. Por meio de questionários para avaliar o grau de isolamento social dos participantes, de testes psicológicos e de exames laboratoriais, o grupo de Chicago concluiu que, embora episódios passageiros de solidão sejam inevitáveis e desprovidos de repercussões orgânicas relevantes, quando o isolamento persiste de forma crônica suas consequências se tornam especialmente nocivas.
Algumas pessoas que vivem isoladas não se sentem solitárias, enquanto outras têm a sensação de estar sozinhas apesar da vida social intensa. A percepção subjetiva da solidão é mais importante para o bem-estar individual do que qualquer medida objetiva do número de interações sociais.
Numa escala criada para avaliar o grau de isolamento pessoal, aqueles com escore mais alto apresentam alterações bioquímicas sugestivas de que seus dias são conturbados. Neles, por exemplo, estão elevadas as concentrações urinárias de cortisol e epinefrina, moléculas associadas aos níveis de estresse.
Esse dado ajuda a explicar por que os solitários crônicos ficam estressados diante de situações que outros enfrentam com naturalidade, como falar em público ou conversar com desconhecidos.
Na evolução de nossa espécie, a ansiedade provocada pela solidão funcionou como sinal de alerta para que o indivíduo procurasse a proteção do grupo. Num mundo povoado por predadores, que chance de sobrevivência teria um animal fraco como nós perambulando sozinho?
Nesse sentido, o sofrimento que a solidão traz é faca de dois gumes: de um lado, colabora para a adaptação ao meio, porque favorece o agrupamento; de outro, prejudica o organismo quando se torna crônico.
O grupo de Chicago investigou as repercussões imunológicas do isolamento prolongado. Nos solitários estão mais ativos os genes que promovem inflamação, enquanto aqueles envolvidos na resposta imune contra os vírus exibem atividade diminuída. Por essa razão, eles apresentam maior susceptibilidade às infecções virais (da gripe ao HIV) e à doença cardiovascular, enfermidade associada aos processos inflamatórios.
A solidão crônica interfere com a qualidade do sono, é causa de fadiga e reduz a sensação de prazer associada a atividades recreativas. Para agravar o isolamento, os já solitários tendem a reagir negativamente aos estímulos e a desenvolver impressões depreciativas a respeito das pessoas com as quais interagem.
A avaliação das funções cerebrais por meio de ressonância magnética funcional mostra que a solidão crônica afeta o córtex pré-frontal, área localizada na parte da frente do cérebro, crucial para a tomada de decisões racionais, como as de planejar o melhor caminho para o trabalho ou a hora de ir ao banco.
O comprometimento do córtex pré-frontal ajuda a entender por que as pessoas que se sentem isoladas correm mais risco de comer mal, fumar, abusar do álcool, ganhar peso e levar vida sedentária.
Estudos com irmãos gêmeos revelam que a solidão crônica não depende exclusivamente das características do meio, mas apresenta aspectos hereditários. É como se existisse um “termostato genético” para a capacidade de lidar com a solidão, ajustado em níveis diferentes em cada um de nós. Isso não quer dizer que nossos genes nos condenariam à vida solitária, mas que estão por trás da intensidade da dor sentida quando estamos sós.
Com o celular e a internet criamos possibilidades ilimitadas de interações sociais; num único dia, podemos entrar em contato com um número de pessoas que nossos antepassados levariam anos para conhecer. Contraditoriamente, o contingente dos que se queixam da falta de alguém com quem compartilhar sentimentos íntimos aumenta em todos os países.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Affonso Romano de Sant’Anna
A poesia exige um silêncio abismal. E isto pode levar à
vertigem.
Ou: a poesia é quando se está à beira de si mesmo. Cair em si, sem se perder, ou achar-se do outro lado de si mesmo. Isto exige perícia. Pois há que ouvir sons, ruídos, mensagens que fluem também do lado de fora, no exterior.
Certa vez
fiquei duas horas sobre as pedras do Arpoador, à toa, apenas ouvindo o mar. O
marulhar do mar. O marulhar da alma. É preciso uma certa ousadia para se ouvir o
nada. O nada é onde tudo começa. É de onde surge o a voz da poesia.Estranha
relação entre o eu e o mundo. O pessoal e social. Há que haver uma orquestração.
Não é de muita valia ficar chorando pelos cantos. O choro pessoal ainda não é
poesia.Tem que haver algo mais: converter-se em coro. Por isto a voz do poeta é
uma voz de utilidade pública. Quando não sabemos como dizer certas coisas,
pedimos a voz do poeta emprestada e entoamos uma verdade simbólica.Rainer
Maria Rilke, poeta alemão, pediu emprestado um castelo para, isolado, ouvir
melhor o que os querubins lhe diziam.
Victor Hugo foi para as ruas e
barricadas ouvir a voz de seu tempo.
Rimbaud, de repente, calou-se para
sempre. Ficou mudo. Um zumbi perdido nos desertos africanos. Sem voz.
Quando
Orfeu soava seus versos as bestas mais ferozes se acalmavam e até as pedras o
entendiam. Como cada pássaro tem um canto especial, o poeta tem que descobrir
qual a sua voz interior. Não se pode cantar com a voz do outro. Claro que
alguns, na literatura e na vida, começam imitando o canto alheio. É um
aprendizado.
Camões ouvia Virgilio
e Homero. João Cabral de Melo Nelo começou ouvindo Carlos Drummond. Na música
popular a mesma coisa: Dalva de Oliveira gerou Angela Maria. Mas João Gilberto
não pode cantar como Orlando Silva ou Nelson Gonçalves. Ou vice-versa.
Cada
qual no seu canto. Na sua voz.E já que ouvir a voz interior é um risco,
alguns a ouvem, e desesperam. Outros tapam os ouvidos. Enchem sua vida de ruídos
espetaculares.
O músico ( como o poeta) faz falar o espaço em branco. Faz
falar o indizível. Pausa é música. Música é pausa no ruído cotidiano. Música é a
salvação do ruído.E como esse mundo ficou barulhento, meu Deus! E se poesia
é voz oculta sob a prosa, em certas épocas a voz do cantor e do poeta são
perigosas. Eles fazem falar o silêncio, o que foi calado, reprimido. As
ditaduras nos dão estranhas licões de poesia.Repito: poesia exige um
silêncio abismal.
Ler, escrever ou
ouvir poesia é abismar-se.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
A Velha Amiga
Conversávamos sobre saudade. E de repente me apercebi de que não tenho saudade de nada. Isso independente de qualquer recordação de felicidade ou de tristeza, de tempo mais feliz, menos feliz. Saudade de nada. Nem da infância querida, nem sequer das borboletas azuis, Casimiro.
Nem mesmo de quem morreu. De quem morreu sinto é falta, o prejuízo da perda, a ausência. A vontade da presença, mas não no passado, e sim presença atual.
Saudade será isso? Queria tê-los aqui, agora. Voltar atrás? Acho que não, nem com eles.
A vida é uma coisa que tem de passar, uma obrigação de que é preciso dar conta. Uma dívida que se vai pagando todos os meses, todos os dias. Parece loucura lamentar o tempo em que se devia muito mais.Queria ter palavras boas, eficientes, para explicar como é isso de não ter saudades; fazer sentir que estou expirimindo um sentimento real, a humilde, a nua verdade. Você insinua a suspeita de que talvez seja isso uma atitude.
Meu Deus, acha-me capaz de atitudes, pensa que eu me rebaixaria a isso? Pois então eu lhe digo que essa capacidade de morrer de saudades, creio que ela só afeta a quem não cresceu direito; feito uma cobra que se sentisse melhor na pele antiga, não se acomodasse nunca à pele nova. Mas nós, como é que vamos ter saudades de um trapo velho que não nos cabe mais?
Fala que saudade é sensação de perda. Pois é. E eu lhe digo que, pessoalmente, não sinto que perdi nada. Gastei, gastei tempo, emoções, corpo e alma. E gastar não é perder, é usar até consumir.
E não pense que estou a lhe sugerir tragédias. Tirando a média, não tive quinhão por demais pior que o dos outros. Houve muito pedaço duro, mas a vida é assim mesmo, a uns traz os seus golpes mais cedo e a outros mais tarde; no fim, iguala a todos.

Infância sem lágrimas, amada, protegida. Mocidade - mas a mocidade já é de si uma etapa infeliz. Coração inquieto que não sabe o que quer, ou quer demais.
Qual será, nesta vida, o jovem satisfeito? Um jovem pode nos fazer confidências de exaltação, de embriaguez; de felicidade, nunca. Mocidade é a quadra dramática por excelência, o período dos conflitos, dos ajustamentos penosos, dos desajustamentos trágicos. A idade dos suicídios, dos desenganos e, por isso mesmo, dos grandes heroísmos. É o tempo em que a gente quer ser dono do mundo - e ao mesmo tempo sente que sobra nesse mesmo mundo. A idade em que se descobre a solidão irremediável de todos os viventes. Em que se pesam os valores do mundo por uma balança emocional, com medidas baralhadas; um quilo às vezes vale menos do que um grama; e por essas medida, pode-se descobrir a diferença metafísica que há entre uma arroba de chumbo e uma arroba de plumas.
Não sei mesmo como, entre as inúmeras mentiras do mundo, se consegue manter essa mentira maior de todas: a suposta felicidade dos moços. Por mim, sempre tive pena deles, da sua angústia e do seu desamparo. Enquanto esta idade a que chegamos, você e eu, é o tempo da estabilidade e das batalhas ganhas. Já pouco se exige, já pouco se espera. E mesmo quando se exige muito, só se espera o possível. Se as surpresas são poucas, poucos também os desenganos.
A gente vai se aferrando a hábitos, a pessoas e objetos. Ai, um um dos piores tormentos dos jovens é justamente o desapego das coisas, essa instabilidade do querer, a sede do que é novo, o tédio do possuído.
E depois há o capítulo da morte, sempre presente em todas as idades. Com a diferença de que a morte é a amante dos moços e a companheira dos velhos.
Para os jovens ela é abismo e paixão. Para nós, foi se tornando pouco a pouco uma velha amiga, a se anunciar devagarinho: o cabelo branco, a preguiça, a ruga no rosto, a vista fraca, os achaques. Velha amiga que vem de viagem e de cada porto nos manda um postal, para indicar que já embarcou.
(Crônica publicada no jornal "O Estado de São Paulo" - 13/01/2001)
Conversávamos sobre saudade. E de repente me apercebi de que não tenho saudade de nada. Isso independente de qualquer recordação de felicidade ou de tristeza, de tempo mais feliz, menos feliz. Saudade de nada. Nem da infância querida, nem sequer das borboletas azuis, Casimiro.
Nem mesmo de quem morreu. De quem morreu sinto é falta, o prejuízo da perda, a ausência. A vontade da presença, mas não no passado, e sim presença atual.
Saudade será isso? Queria tê-los aqui, agora. Voltar atrás? Acho que não, nem com eles.
A vida é uma coisa que tem de passar, uma obrigação de que é preciso dar conta. Uma dívida que se vai pagando todos os meses, todos os dias. Parece loucura lamentar o tempo em que se devia muito mais.Queria ter palavras boas, eficientes, para explicar como é isso de não ter saudades; fazer sentir que estou expirimindo um sentimento real, a humilde, a nua verdade. Você insinua a suspeita de que talvez seja isso uma atitude.
Meu Deus, acha-me capaz de atitudes, pensa que eu me rebaixaria a isso? Pois então eu lhe digo que essa capacidade de morrer de saudades, creio que ela só afeta a quem não cresceu direito; feito uma cobra que se sentisse melhor na pele antiga, não se acomodasse nunca à pele nova. Mas nós, como é que vamos ter saudades de um trapo velho que não nos cabe mais?
Fala que saudade é sensação de perda. Pois é. E eu lhe digo que, pessoalmente, não sinto que perdi nada. Gastei, gastei tempo, emoções, corpo e alma. E gastar não é perder, é usar até consumir.
E não pense que estou a lhe sugerir tragédias. Tirando a média, não tive quinhão por demais pior que o dos outros. Houve muito pedaço duro, mas a vida é assim mesmo, a uns traz os seus golpes mais cedo e a outros mais tarde; no fim, iguala a todos.

Infância sem lágrimas, amada, protegida. Mocidade - mas a mocidade já é de si uma etapa infeliz. Coração inquieto que não sabe o que quer, ou quer demais.
Qual será, nesta vida, o jovem satisfeito? Um jovem pode nos fazer confidências de exaltação, de embriaguez; de felicidade, nunca. Mocidade é a quadra dramática por excelência, o período dos conflitos, dos ajustamentos penosos, dos desajustamentos trágicos. A idade dos suicídios, dos desenganos e, por isso mesmo, dos grandes heroísmos. É o tempo em que a gente quer ser dono do mundo - e ao mesmo tempo sente que sobra nesse mesmo mundo. A idade em que se descobre a solidão irremediável de todos os viventes. Em que se pesam os valores do mundo por uma balança emocional, com medidas baralhadas; um quilo às vezes vale menos do que um grama; e por essas medida, pode-se descobrir a diferença metafísica que há entre uma arroba de chumbo e uma arroba de plumas.
Não sei mesmo como, entre as inúmeras mentiras do mundo, se consegue manter essa mentira maior de todas: a suposta felicidade dos moços. Por mim, sempre tive pena deles, da sua angústia e do seu desamparo. Enquanto esta idade a que chegamos, você e eu, é o tempo da estabilidade e das batalhas ganhas. Já pouco se exige, já pouco se espera. E mesmo quando se exige muito, só se espera o possível. Se as surpresas são poucas, poucos também os desenganos.
A gente vai se aferrando a hábitos, a pessoas e objetos. Ai, um um dos piores tormentos dos jovens é justamente o desapego das coisas, essa instabilidade do querer, a sede do que é novo, o tédio do possuído.
E depois há o capítulo da morte, sempre presente em todas as idades. Com a diferença de que a morte é a amante dos moços e a companheira dos velhos.
Para os jovens ela é abismo e paixão. Para nós, foi se tornando pouco a pouco uma velha amiga, a se anunciar devagarinho: o cabelo branco, a preguiça, a ruga no rosto, a vista fraca, os achaques. Velha amiga que vem de viagem e de cada porto nos manda um postal, para indicar que já embarcou.
(Crônica publicada no jornal "O Estado de São Paulo" - 13/01/2001)
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Esta crônica me sensibiliza profundamente, principalmente, neste momento da minha vida quando vivo de perto o envelhecimento de pessoas queridas .
Apenas um cão
Cecília Meireles
Subidos, de ânimo leve
e descansado passo, os quarenta degraus do jardim – plantas em flor, de cada
lado; borboletas incertas; salpicos de luz no granito eis-me no patamar. E aos
meus pés, no áspero capacho de coco, à frescura da cal no pórtico, um cãozinho
triste interrompe o seu sono, levanta a cabeça e fita-me. É um triste cãozinho
doente, com todo o corpo ferido; gastas, as mechas brancas do pêlo; o olhar
dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito
idosas.
Com grande esforço, acaba de levantar-se. Eu não lhe
digo nada; não faço nenhum gesto. Envergonho-me haver interrompido o seu sono.
Se ele estava feliz ali, eu não devia ter chegado. Já que lhe faltavam tantas
coisas, que ao menos dormisse: também os animais devem esquecer, enquanto
dormem... Ele, porém, levantava-se e olhava-me. Levantava-se com a dificuldade
dos enfermos graves, acomodando as patas da frente, o resto do corpo, sempre com
os olhos em mim, como à espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu não o
queria vexar nem oprimir. Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe
que o examinasse, que receitasse, encaminhá-lo para tratamento... Mas tudo é
longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha
frente, inábil, como envergonhado de se achar tão sujo e doente, com o
envelhecido olhar numa espécie de súplica.
Até
o fim da vida guardarei seu olhar no meu coração. Até o fim da vida sentirei
esta humana infelicidade de nem sempre poder socorrer, neste complexo mundo dos
homens. Então, o triste cãozinho reuniu todas as suas forças, atravessou o
patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se fosse um visitante
habitual, e começou a descer as escadas e as suas rampas, com plantas em flor de
cada lado, as borboletas incertas, salpicos de luz no granito, até o limiar da
entrada. Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo,
desapareceu.
Ele ia
descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem firmeza e
sem destino. Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura deste mundo de
criaturas inumeráveis. Esteve no meu alcance, talvez tivesse fome e sede: e eu
nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil, sem qualquer
expressão concreta. Deixei-o partir, assim, humilhado, e tão digno, no entanto;
como alguém que respeitosamente pede desculpas por ter ocupado um lugar que não
era o seu. Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à
sombra de uma porta. E há o dono da casa e a escada que descemos, e a dignidade
final da solidão.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Um dia é preciso parar de sonhar e de algum modo partir...
É melhor tomar um caminho, desembarcar dos sonhos e tomar uma atitude.
Mil vezes a perspectiva de enfrentar a pior tempestade do que as normais calmarias sem rumos, sem ir a lugar nenhum.
Barcos de verdade não navegam por acaso...
Não existem atividades humanas sem riscos...
O risco maior da grande viagem está na capacidade de se preparar...
O que importa na verdade, é o material de que é feita a vontade, e não o barco...
No mar, conta mais, infinitamente mais que a experiência, a iniciativa, o respeito e a capacidade de aprender.
É preciso ir além de mares demarcados...
Uma travessia não termina em qualquer lugar, mas, num ponto preciso, escolhido e alcançado.
E, enquanto não se toca esse ponto, travessia nenhuma existe".
(Fernando Pessoa)
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
Gostei muito do livro:
"O desejo havia me transformado em um caçador implacável em busca de pistas, paronóico, romântico, lendo significados em tudo.
Mesmo assim, fosse qual fosse minha impaciência com os rituais da sedução, eu estava consciente de que o mistério dava a Chloe um encanto especial. Os mais atraentes não são aqueles que nos permitem que os beijemos de imediato) logo nos sentimos desinteressados) ou aqueles que nunca permitem que os beijemos (logo os esquecemos), mas aqueles que sabem ministrar cuidadosamente diferentes doses de esperança e desespero".
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
Sou de um tempo e lugar em que os comboios eram lentos, tão
vagarosos que pareciam arrependidos da viagem. Na estação, não havia despedida.
Nada de separação traumática, o golpe definitivo da partida. Tudo era tão lento
e esfumado que se convertia em irrealidade. A despedida como repentina ruptura
eu aprendi mais tarde, no meu primeiro aeroporto. Voar é o sonho da própria
poesia. Mas o voo tem despesas de afecto muito pouco poéticas.
Nasci e vivi entre meandros de rios, preguiçosas águas que se apegavam às margens. A estação ferroviária obedecia a essa líquida paisagem. O comboio era um barco e eu entendia porque se chamava "cais" àquela plataforma onde as mães agitavam os lenços brancos. Para mim, os modos lentos do comboio não resultavam de incapacidade motora. Eram, sim, gentileza. Uma afabilidade para com essas pequenas mortes, que são as despedidas.
Muitas vezes me desloquei para a estação dos caminhos-de-ferro com o fim de não me deslocar para lado nenhum. Ficava no banco de madeira a olhar a gente transitando. E me abandonava naquele assento durante horas, sem que o tempo me pesasse. Talvez eu viajasse mais que os próprios passageiros que chegavam e partiam. A minha cidade era pequena, tão pequena que os domingos, com seu tédio antecipado, não eram notados. Eu inventava os meus tempos fora do Tempo, ali na arrastada azáfama da estação ferroviária.
Não tive propriamente uma educação religiosa. Apenas de quando em quando eu entrava em recinto de igreja. Fazia-o porque havia ali um sossego que me refrescava a alma. Qualquer coisa parecida com o que eu encontrava na gare ferroviária. Com a diferença de que a estação me facultava um recolhimento do lado de dentro da Vida, um resguardo entre as pessoas e as almas que eu nelas inventava. Os fantasmas da igreja moravam na sombra fria. Os da estação eram solarentos, riam alto e falavam línguas que eu desconhecia.
Algo me ficou desse estacionamento de alma, como se eu ganhasse residência perene nas velhas estações de todo o mundo. Afinal, essa contemplação me trouxe como que um irreparável vício: ter um banco de madeira onde eu possa ver desfilar pessoas em flagrante viagem.
Mia Couto
Crônica sobre a cidade da Beira, sua cidade natal.
Jornal Expresso. Suplemento Única, pp. 40-44. Lisboa, 09 de fevereiro de 2007.
Nasci e vivi entre meandros de rios, preguiçosas águas que se apegavam às margens. A estação ferroviária obedecia a essa líquida paisagem. O comboio era um barco e eu entendia porque se chamava "cais" àquela plataforma onde as mães agitavam os lenços brancos. Para mim, os modos lentos do comboio não resultavam de incapacidade motora. Eram, sim, gentileza. Uma afabilidade para com essas pequenas mortes, que são as despedidas.
Muitas vezes me desloquei para a estação dos caminhos-de-ferro com o fim de não me deslocar para lado nenhum. Ficava no banco de madeira a olhar a gente transitando. E me abandonava naquele assento durante horas, sem que o tempo me pesasse. Talvez eu viajasse mais que os próprios passageiros que chegavam e partiam. A minha cidade era pequena, tão pequena que os domingos, com seu tédio antecipado, não eram notados. Eu inventava os meus tempos fora do Tempo, ali na arrastada azáfama da estação ferroviária.
Não tive propriamente uma educação religiosa. Apenas de quando em quando eu entrava em recinto de igreja. Fazia-o porque havia ali um sossego que me refrescava a alma. Qualquer coisa parecida com o que eu encontrava na gare ferroviária. Com a diferença de que a estação me facultava um recolhimento do lado de dentro da Vida, um resguardo entre as pessoas e as almas que eu nelas inventava. Os fantasmas da igreja moravam na sombra fria. Os da estação eram solarentos, riam alto e falavam línguas que eu desconhecia.
Algo me ficou desse estacionamento de alma, como se eu ganhasse residência perene nas velhas estações de todo o mundo. Afinal, essa contemplação me trouxe como que um irreparável vício: ter um banco de madeira onde eu possa ver desfilar pessoas em flagrante viagem.
Mia Couto
Crônica sobre a cidade da Beira, sua cidade natal.
Jornal Expresso. Suplemento Única, pp. 40-44. Lisboa, 09 de fevereiro de 2007.
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Encurtando... - Martha Medeiros
“Passado e o futuro são dois períodos
que já não interessam: cultua-se o presente como nunca. O que vale é este
momento, agora, o instante vivido. Tudo digitalizado, virtual,
instantâneo”Quanto tempo leva para superar a dor da perda?
Quanto tempo para digerir uma rejeição? Absorver que um sonho terminou? Esquecer
uma frustração? Uma mágoa de infância? Um trauma? Uma demissão? Os psicanalistas
provavelmente responderão que é preciso respeitar o ritmo de cada um. Há quem
seja rápido na retomada da vida, há os mais lentos, que necessitam de um
acompanhamento mais intensivo. Não há como decretar: dois dias, dois meses, dois
anos.
Só que a maioria da população não procura psicanalistas. Não tem dinheiro pra isso, e muito menos disponibilidade. As pessoas não podem parar no meio do dia para se consultar, pois trabalham insanamente, e tampouco possuem tempo para, segundo elas, desperdiçar. Sabe-se que análises são demoradas, que buscam e rebuscam nossa intimidade, que não é num estalar de dedos que se atenuam as dores internas. E qualquer coisa que demore, hoje em dia: não, obrigada.
Que inquietação. O passado e o futuro são dois períodos que já não interessam: cultua-se o presente como nunca antes. O que vale é este momento, agora, o instante vivido. Tudo digitalizado, virtual, instantâneo. Quem ainda espera dias por uma resposta? Meses por uma solução? Na vida burocrática, governamental, a demora ainda é praxe e se vale da morosidade para arrecadar mais e mais dinheiro, mas no plano pessoal, encurtaram-se as durações. Vive-se tudo de forma mais compacta, o começo e o fim mais próximos do que jamais foram. E acabamos impregnados dessa urgência, dessa vontade de resolver todas as tranqueiras com a maior agilidade possível.
Porém, há tranqueiras e tranqueiras.
Você consegue resolver pendências profissionais de imediato, consegue tomar decisões práticas sem se alongar: parabéns. Salve a produtividade. Mas não foram essas as questões levantadas no início desse texto. Falávamos de tristezas, de cicatrizar feridas, de aceitar o destino que nos coube, de assimilar mudanças. Sentimentos não são regidos por megabytes por segundo, não se vinculam a relógios, não obedecem a leis objetivas — é o curso da natureza que manda. E a natureza é surda e cega para o desatino. Exige a introspecção devida, sem a qual nada se resolve, só se mascara.
Diante da dor emocional, só há uma ordem a respeitar: paciência. De nada adianta inventar alegrias fajutas e se oferecer para a cobiça do mundo sem antes estar com a alma serenada e forte. É preciso saber esperar, do contrário a gente se atrapalha e só reforça a miséria existencial que preenche as madrugadas. Basta de tanta gente evitando pensar, evitando chorar, evitando olhar para dentro de si mesmo, sorrindo de um jeito tão triste que só faz demorar ainda mais o reencontro com o sorriso verdadeiro — aquele aguardando a hora certa de voltar.
Só que a maioria da população não procura psicanalistas. Não tem dinheiro pra isso, e muito menos disponibilidade. As pessoas não podem parar no meio do dia para se consultar, pois trabalham insanamente, e tampouco possuem tempo para, segundo elas, desperdiçar. Sabe-se que análises são demoradas, que buscam e rebuscam nossa intimidade, que não é num estalar de dedos que se atenuam as dores internas. E qualquer coisa que demore, hoje em dia: não, obrigada.
Que inquietação. O passado e o futuro são dois períodos que já não interessam: cultua-se o presente como nunca antes. O que vale é este momento, agora, o instante vivido. Tudo digitalizado, virtual, instantâneo. Quem ainda espera dias por uma resposta? Meses por uma solução? Na vida burocrática, governamental, a demora ainda é praxe e se vale da morosidade para arrecadar mais e mais dinheiro, mas no plano pessoal, encurtaram-se as durações. Vive-se tudo de forma mais compacta, o começo e o fim mais próximos do que jamais foram. E acabamos impregnados dessa urgência, dessa vontade de resolver todas as tranqueiras com a maior agilidade possível.
Porém, há tranqueiras e tranqueiras.
Você consegue resolver pendências profissionais de imediato, consegue tomar decisões práticas sem se alongar: parabéns. Salve a produtividade. Mas não foram essas as questões levantadas no início desse texto. Falávamos de tristezas, de cicatrizar feridas, de aceitar o destino que nos coube, de assimilar mudanças. Sentimentos não são regidos por megabytes por segundo, não se vinculam a relógios, não obedecem a leis objetivas — é o curso da natureza que manda. E a natureza é surda e cega para o desatino. Exige a introspecção devida, sem a qual nada se resolve, só se mascara.
Diante da dor emocional, só há uma ordem a respeitar: paciência. De nada adianta inventar alegrias fajutas e se oferecer para a cobiça do mundo sem antes estar com a alma serenada e forte. É preciso saber esperar, do contrário a gente se atrapalha e só reforça a miséria existencial que preenche as madrugadas. Basta de tanta gente evitando pensar, evitando chorar, evitando olhar para dentro de si mesmo, sorrindo de um jeito tão triste que só faz demorar ainda mais o reencontro com o sorriso verdadeiro — aquele aguardando a hora certa de voltar.
O GLOBO
29/07/2012
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
O caminho que não tomei
Entre duas
possibilidades, que caminho tomar?
Um dos poemas mais
conhecidos da literatura norte-americana foi escrito por Robert Frost
(1874-1963). É o famoso "The road not taken", e foi traduzido pelo
poeta português Antônio Simões com o título "O caminho que
não tomei". Está numa recente antologia onde ele verteu competentemente 112
poemas do inglês para a nossa língua.
Entre duas
possibilidades, que caminho tomar?
Pode ser entre dois
amores, dois empregos, duas ruas, dois países. Pode ser uma encruzilhada
qualquer. O fato é que a escolha é às vezes algo complicado. Tão complicado que
uns psicólogos norte-americanos criaram a "teoria da dissonância cognitiva"
baseada nesse drama. Como escolhemos as coisas, seja uma simples geladeira, uma
proposta, uma roupa, e que racionalizações fazemos para justificar a direção
tomada?
O poema é simples,
Robert Frost foi um poeta que escrevia simples, e de tão popular que era foi
chamado para ler um poema na posse do presidente Kennedy, em 1961.
Diz o poeta que duas
estradas divergentes surgiram-lhe num bosque amarelado, e infelizmente ele não
podia viajar ao mesmo tempo pelas duas. Eram duas estradas e ele era uma pessoa
só. Ele estendeu os olhos sobre a primeira delas tão longe quanto podia até que
ela se perdesse na folhagem.
No entanto, mesmo diante
dessa sedução, ele tomou a outra via, que tinha uma agreste vegetação
dificultando-lhe o caminho. Fazer tal escolha foi, ao mesmo tempo, obter e
perder alguma coisa.
Na última estrofe, que
reproduzo aqui em português e inglês, ele resume a perplexidade da
situação:
"Suspirando, estarei contando a ti,
Daqui a
mil anos, o que aconteceu:
Dois
caminhos bifurcavam, e eu -
O menos
pisado tomei como meu
E a diferença está toda aí."
I
shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages
hence:
Two
roadas diverged in a wood, and I -
I
took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
Ou seja, em minha vida
eu tomei a estrada mais difícil, menos usada, e isto fez toda a diferença.(...)
O poema de Frost fala de
algo mais ético e existencial. É inevitável associar a ele um outro poema, do
poeta português José Régio, intitulado "Cântico Negro", e que
começa assim:
"Vem por aqui!" - dizem-me alguns com olhos
doces,
estendendo-me os braços e seguros
de que
seria bom que eu os ouvisse
quando me
dizem: "Vem por aqui!"
Eu
olho-os com olhos lassos,
(Há, nos
meus olhos, ironias e cansaços)
e cruzo
os braços
e nunca vou por ali..."
E depois de repetir que
não segue os outros, que só vai por onde bem quer, o poema assim
termina:
"Não sei para onde vou
não sei
para onde vou.
- Sei que não vou por aí!"
André Gide
dizia que , nessa vida, o diabo é que dos cem caminhos a gente tem que escolher
um e ficar com a nostalgia dos outros 99.
É possível. E há quem
sinta nostalgia de todos os cem. Esse tipo de frase de efeito antigamente me
tocava. Mas hoje, menos pretensiosamente, acho que nos cabe tornar o caminho
escolhido mais belo e nele descobrir seus fascinantes mistérios.
Affonso
Romano de Sant'Anna -
Tempo de delicadeza
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
AMOR NÃO É BISCOITO
Em época de vínculos frágeis, os pais tentam assegurar o afeto
do filho dando a ele tudo o que ele quer
Como tem sido difícil para muitas mães ensinar aos filhos a importância da boa alimentação. Há pouco tempo para preparar a comida em casa, para estar com os filhos nos horários das refeições, para fazer o lanche que levarão à escola etc.
No mundo da velocidade, ensinar a criança a comer e a conviver com a família em torno da mesa tem sido tarefa quase impossível.
Precisamos reconhecer: a oferta de porcarias deliciosas dirigidas às crianças está muito grande. E esses alimentos são muito, muito sedutores. Lanches dos mais variados tipos, biscoitos coloridos com ou sem recheio, salgadinhos crocantes de todos os formatos e cores, frituras mil, chocolates, refrigerantes e muitos, muitos doces.
Temos tentado resolver essa questão principalmente porque a saúde infantil tem reclamado. Sobrepeso e obesidade, hipertensão, taxas altas de colesterol, doenças do aparelho digestivo e distúrbios alimentares -problemas antes restritos ao mundo adulto- agora marcam presença na vida de muitas crianças.
Em função desse panorama, vários Estados brasileiros já elaboraram leis para obrigar cantinas escolares a vender exclusivamente alimentos saudáveis e proibir a comercialização de itens gordurosos e industrializados, por exemplo.
Muitas escolas também já começam a oferecer alguns recursos para colaborar com o enfrentamento do problema: contratam nutricionistas, oferecem lanches balanceados, orientam pais e professores, realizam atividades culinárias com as turmas e abordam o tema da alimentação com seus alunos.
A questão é difícil tanto para as famílias quanto para as escolas. Afinal, como ajudar a criança a aprender a comer bem? Vamos tentar localizar alguns focos dessa questão.
O relacionamento entre pais e filhos mudou muito nas últimas décadas. Uma dessas mudanças foi radical: os pais têm receio, hoje, de perder o amor de seus filhos. Antes era o oposto: os filhos obedeciam por medo de perder o amor dos pais.
Dá para entender essa virada: em um mundo de relacionamentos afetivos extremamente frágeis, precisamos ter a garantia da permanência de alguns vínculos. Numa época em que o prefixo "ex" se multiplica na frente de palavras como marido, sogra, cunhado etc., nada como tentar assegurar que o bom relacionamento com os filhos permanecerá.
O problema é que isso tem se concretizado de maneiras equivocadas. Uma delas é a atitude de muitos pais de tentar dar ao filho tudo o que ele quer.
E o que a criança quer comer? Aquilo que achamos gostoso e que oferecemos a ela justamente por esse motivo. Vamos falar a verdade: queremos que as crianças se alimentem bem por questões de saúde, não é verdade? Mas elas logo percebem que o que lhe oferecemos porque consideramos gostoso não coincide com o que queremos que comam porque faz bem.
A mãe de uma garota de menos de dois anos me disse que estava bem difícil fazer a filha almoçar, porque ela só queria biscoito.
Perguntei à essa mãe como a criança descobrira os tais biscoitos e ela me respondeu que ela mesma é que havia introduzido esse alimento em casa. "Por que eu deveria privar minha filha de comer coisas gostosas? Eu só não sabia que ela iria gostar tanto a ponto de passar a recusar as refeições."
E devo dizer: essa mãe permite que a sua filha substitua o almoço e o jantar por biscoitos. "Vou deixar que ela chore de fome?", perguntou ela.
A maior parte das dificuldades alimentares de uma criança tem, portanto, origem no tipo de relação que seus pais estabelecem com ela e também com as escolhas que nós, adultos, fazemos do que consideramos gostoso. É ou não é?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
FOLHA DE
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21/08/2012
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- "A senhora me desculpe, mas no momento não tenho muita certeza. Quer dizer, eu sei quem eu era quando acordei hoje de manhã, mas já mudei uma porção de vezes desde que isso aconteceu. (...) Receio que não possa me explicar, Dona Lagarta, porque é justamente aí que está o problema. Posso explicar uma porção de coisas... Mas não posso explicar a mim mesma." (Lewis Carroll)
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